O Dão surge-nos, pelo menos a partir da segunda metade do século XIX como uma região exemplar, de vinhos distintos e autênticos, procurados pelos mercados nacionais mais exigentes, sobretudo das grandes metrópoles de Lisboa e Porto, mas igualmente pelos internacionais.
É curioso como, com o eclodir da filoxera em França, numa época em que a sua incidência em Portugal ainda era residual, tenha sido no Dão que aquele país produtor de vinho tenha buscado a maior parte do fornecimento que os seus consumidores haviam de beber. Aliás, nessa época floresce a viticultura na região, plantando-se grandes áreas de vinha que haviam de produzir os vinhos que abasteceriam o sôfrego mercado francês. Mas, crente de que a necessidade do mercado gaulês seria temporária, a região soube encontrar outros mercados tão ou mais apetecíveis que o francês. África e Brasil eram territórios a desbravar e, com a diminuição das compras de França na última década do século XIX, estes dois mercados crescem exponencialmente, trazendo prestígio aos vinhos do Dão.
Contudo, este crescimento exponencial trouxe também efeitos perniciosos que era necessário combater, e que diziam respeito à falta de proteção do território e origem dos vinhos. O Dão não podia correr o risco de ver os seus vinhos adulterados ou confundidos com outros de menor qualidade. Daí ter surgido, de modo mais premente, a ativação dos mecanismos que conduziram à Demarcação da Região, que veio a ocorrer em 1908, tendo sido o Dão a primeira região de vinhos “de pasto”, não generosos, portanto, a conhecer a sua regulamentação.
E o que se visava proteger, além do território e seus produtores, era uma autenticidade caracterizada, ainda hoje, pelos vinhos tintos de fino recorte, onde os aromas frutados se casam com as notas florais, assumindo enorme complexidade e, sobretudo, uma notável capacidade de envelhecimento, e brancos de perfume requintado, minerais e com limpidez frutada, evidenciando um caráter único e inimitável. Uma singularidade que resulta das próprias características do terroir, também ele único, circundado por um conjunto de serras de efeito protetor das massas de ar húmido provenientes do Atlântico e dos ventos continentais inclementes.
São essas características que os vinhos Casa de Santar e Vinha do Contador têm preservado ao longo de gerações, mantendo inalterado o ADN da região e aportando aos vinhos uma identidade inconfundível, traduzida na melhor interpretação dos solos, do clima e, naturalmente, das castas maioritariamente autóctones com que se constroem os seus vinhos. A evolução do cariz mais científico da viticultura, permitem hoje criar os vinhos a partir da vinha, respeitando a identidade e características de cada parcela, valorizando as inatas aptidões de cada casta. Olhemos para a Vinha dos Amores e para a centenária Vinha do Contador como expressão perfeita da interpretação de parcela, com a perfeita noção de que a videira é um filtro que transmite aos vinhos as propriedades dos solos, do clima, da envolvência, fauna e flora e, naturalmente, da mão humana que delas cuida. Do mesmo modo, que as vinhas antigas exibem a sabedoria e são donas dos mecanismos que lhe permitem a melhor adaptação às condições climáticas de cada ano.
E é tudo isto que faz dos vinhos Casa de Santar um repositório fiel da magnificência do Dão.